ESCOLHAS
O homem é um animal que escolhe, esta é sua agonia e sua grandeza.
Toda escolha se dá no estreito universo do binarismo: quando escolhemos um caminho é para, mais adiante, escolhermos outro, de novo e de novo, aos pares. Talvez por isso, as escolhas são duplos angustiantes.
Escolheremos sempre até a agonia cessar, mas isto só é possível com a morte. Aliás, dizem que nem nesse caso deixaremos de escolher. O purgatório, quando existia, era apenas uma pausa para as escolhas entre o céu e o inferno.
O futuro é sempre uma aposta, porque sabemos que, em algum momento, teremos de decidir por um caminho, sempre com a nostalgia dos caminhos que não escolhemos.
Podemos, é claro, fazer como aquela personagem de Machado de Assis, no romance Esaú e Jacó, a Flora, podemos escolher não escolher, mas esta opção é suicida. Ninguém pode viver sem escolher. A recusa é solipsista e insuportável.
Mas não é preciso desesperar. Sempre se pode escolher a partir de convicções pessoais e honestas. A partir de verdades íntimas que nos completam e nos tranquilizam, desde que sejam escolhas válidas, humanas, fraternas e, sobretudo, sinceras. De todo modo, assim que decidimos o caminho, devemos sempre nos preparar para a solidão.
Afinal de contas, esta inquietação das escolhas é a diferença entre o homem e o orangotango. Oragotangos não têm dúvidas, não se arrependem, vivem mergulhados em certezas absolutas. Enfim , não são homens, embora com eles se pareçam.