PROXIMIDADE E VIZINHANÇA: A NOVA ÁGORA
Para
constar, em um exercício de pretensa filosofia, há de se reconhecer que
proximidade não é vizinhança, mas seu pressuposto. Estar próximo é uma atilada
estratégia de encolher espaços, um esforço premeditado de estar junto, ao lado.
É, portanto, um exercício objetivo de mera aproximação que se dá, às vezes, a
despeito da vontade. Vizinhança é outra coisa.
Vizinhança
é uma proximidade deliberada, movida por algum tipo de afinidade a qual, muitas
vezes, sentimos como se fosse uma complementaridade. Na vizinhança, é o vizinho
quem baliza nossas fronteiras afetivas. O vizinho tem o condão de ampliar os
novos espaços vitais, não como fosse a Lebensraum
de um Império, mas a radiante aventura de descobrir-se, de abrir as fronteiras
de uma nova subjetividade, delicada e renovadora.
Estar
próximo não é uma decisão, é uma conveniência. A proximidade denota apenas o
volume, o desenho da massa, onde cada um é o solitário estar entre as gentes. Na vizinhança, é um solidário estar com o outro. É deste
modo que a vizinhança se torna potencialmente emancipatória, porque nos
tornamos mais fortes quando nos sentimos íntegros na nova identidade.
A
proximidade não é capaz de gerar rebeliões, no máximo, gera ruídos, aglomerados
difusos, mas a vizinhança estabelece vínculos e compromissos que jamais
suspeitávamos existir. A proximidade gera resignação; a vizinhança gera
renovação, mudança, transformação.
Os
fenômenos de comunicação conhecidos como redes sociais, como orkut, Facebook potencializam
o poder de vizinhança. As convocações para os encontros pós-virtuais abrem um
novo capítulo na história dos movimentos sociais e, por conseqüência, nas
democracias de massa.
As
mobilizações via internet não
entronizam um líder, um mártir e muito menos um porta-voz. Nos movimentos que
geram, cada participante é seu próprio centro, seu próprio líder. As palavras
de ordem que antes formavam o eixo de propósitos e definiam as ações dentro dos
movimentos ( como o é proibido proibir
de maio de 68) não são mais indispensáveis. Agora, as páginas dos sítios de
encontros apenas registram a hora e o local. A indignação a cada um pertence.
As
mais violentas e crueis ditaduras estão derretendo, não sob a força das armas
de um comandante afoito, mas sob a pressão da “agora digital”, repetindo o
ideal grego da democracia. Até ampliando, porque não se trata de uma agora
seletiva, excluindo os escravos e restringindo-se aos aristotein, mas uma agora para todos o que tiverem acesso a um
computador ou a um telefone celular com internet,
isto é, quase todos nós.
A
nova agora ainda vai dar muito o que
falar. Rios de bytes escorrerão sobre as telas dos laptops, netbooks, tablets contando a nova historia do presente em
que cada indivíduo é ator protagonista de seu momento.
Sim,
o mundo muda, e para melhor!