Páginas

sexta-feira, 23 de março de 2012



 
CONSUMMATUM EST

Eis o homem pregado na cruz.

Ainda não sabe
que a dor sentida
supera a dor pressentida.

É este o momento
do deus-homem – apenas –
homem. Por suprema humildade.

Este homem, cravado em cruz,
já sabe que a dor contida
resume em nossa humanidade
a herança da dor repartida.

O homem condenado na cruz
Redime descuidadas culpas.
E não há cálice que as contenha.
Não há consolo que as mitigue.
Não há calendas com que medi-las.

Um homem na cruz, pregado,
tomba seu rosto de lado
em sangue ardente banhado.

Para talvez suportar
O pó da humildade
a dor de todos os partos.

No entanto, ele segue sonhando.

Este homem, cuja agonia a todos redime,
em breve despertará, naquela tarde patética.
Não há de faltar ciência:
Conhecerá a dor e a Verdade.

Todavia
seguirá sonhando
com outra humanidade.

Três horas. A tarde arde.
Ele vira o rosto de lado.
Já não sente dor, mas vergonha.
Já não sabe se vale a pena
sonhar com outra humanidade... 
Carlos Sepúlveda