Se não me
engano (estou com preguiça de me levantar daqui para uma consulta), foi Plínio,
o Jovem, que disse não haver livro tão ruim que não encerre algo de bom.
A sentença,
plena de uma tolerância quase evangélica, justifica e absolve os autores que se
precipitam em brindar, com letras de forma, algo parecido com um livro. Há em
nós uma vontade imperiosa de publicar um livro, pelo menos uma vez na vida. Acho
que é para validar aquele conhecido exercício existencial: um filho, uma
árvore, um livro.
Claro, o
fato de publicar um livro não torna ninguém um escritor, para isto é preciso
muito mais do que um livro ou um blog, é preciso um compromisso de vida, uma
dedicação muitas vezes suicida, para se dizer escritor ou, mais grave ainda, um
poeta.
No entanto,
gosto do julgamento de um mestre da antiguidade romana. Aceito que todo livro,
não importa qual, é sempre fruto de um paciente tecer e destecer de linhas,
palavras, silêncios que, se não expressam verdades profundas e nem mudam o modo
de pensar da humanidade, ao menos revelam uma alma generosa que não hesitou em
dividir com os leitores o pão de sua intimidade.
Muitas
vezes, um livro despretensioso, quase secreto, que se escondeu nos desvãos de
alguma biblioteca, por séculos, de repente é encontrado, lido e relido, para se
tornar o prenúncio de verdades só agora vividas.
Isto não
aconteceu ocasionalmente, antes, aconteceu muitas vezes. Quem não se lembra do
pedido de Kafka na hora da morte? Pediu ao amigo e também escritor, Max Brod,
que lhe queimassem todos os manuscritos porque não valiam a pena. Ora, o
generoso amigo não só ignorou a ordem como os fez publicar. Hoje, Kafka é uma
passagem obrigatória a todos os que pretendem entender o lado demente de nossa
modernidade.
Portanto,
escrevam e, se possível, publiquem. A gente nunca sabe o gênio que se esconde
no fundo de nossa alma.
Carlos Sepúlveda
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