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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


PASSADO A LIMPO



Há muito, me livrei dessas tralhas.
O tempo destrói as migalhas
Que a esperança plantou em mim.
Nunca mais a vida disse sim.

De todas as impossíveis tramas,
De todos os majestosos dramas,
Restou somente esses versos ralos,
Lembranças de outros tempos diversos.

Aos poucos, o pensamento voga,
Sem rumo certo, sem norte, nada...
O que foi vida, próxima e clara,
Se faz distante quimera rara.

As árvores se desnudam em flores.
Na paisagem, desmaiam cores.
Quando primeva era a primavera,
Já suspeitava em mim esta fera

A roer, indecifravelmente,
Todas as marcas de um passado,
A deitar sementes de remorso.

A seiva se escoa, gotejante...

Carlos Sepúlveda

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