Impossível Natal
Não
quero escrever sobre quem é o natal. Disso já sabemos.
Sabemos
que é a comemoração do nascimento de um homem-deus, irrepetível. Como também
sabemos que este caráter único nos fascina e nos embaraça, porque, se bem
compreendida a criança nascida há 2011 anos, somente iguala-se a nós na dor, no
sofrimento, físico e moral.
Somos
muito parecidos com ela, mas só quando somos menos homens.
Pode
ser que esteja na hora de se pensar sobre o que é o natal.
O
natal é um estilo de vida, uma páscoa moral, onde cada um de nós aceita ser a
fonte milagrosa de onde jorra a água da vida, aceitando ser o outro do outro,
cuja dádiva plena é a tolerância, isto é: suportamos do outro aquilo que não
toleramos em nós mesmos.
Natal
é a lição mais profunda de humildade: o perdão. Mas não é a anistia compulsória
dos males alheios, porém o braço amigo que ajuda a suportar o peso corporal dos
erros cometidos e do arrependimento.
O
estilo de vida chamado natal não supõe o acúmulo de conforto e riqueza às
custas da devastação. Refiro-me à natureza predatória do enriquecimento
ilícito, fruto da malandragem, da esperteza e da má-consciência: da devastação
das esperanças e dos afetos e do calor humano, deste ágape infinito com que nos
reconciliamos com nossos irmãos necessitados de tudo.
O impossível
natal não se recolhe das ilusões perdidas, mas da infinita tristeza por não
termos sido capazes de reconhecer o Menino-deus que habita em todos nós.
É que
o impossível natal é obra do despojamento, da recusa amável e compreensiva em
apostar todas as fichas no poder de acumular, de se supor visível para Deus a
partir dos bens obtidos na corrupção, no roubo, na esperteza, nas traições.
O
impossível natal se aninha em nosso espírito quando finalmente compreendemos a
natureza doadora da maturidade. É quando descobrimos que somos verdadeiros
quando o natal nos traz de volta o que perdemos na indiferença pelos destinos
humanos, dos humilhados e ofendidos.
Nenhum
homem consegue pular sua própria sombra, mas nem por isso deixamos de tentar:
como não deixamos de tentar fazer, da manhã seguinte, o início de todas as
manhãs, já que o sol é sempre novo para quem crê.
O
impossível natal se torna possível quando descobrimos que Jesus é o nome
daquilo que nascemos para ser, profundamente, verdadeiramente, quando
merecermos. E quando tivermos coragem de Ser.
FELIZ
NATAL
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