REFLEXÕES DE UM CRISTÃO
FILÓSOFO
ROMANOS 7, 19-20
Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o
mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou
agindo e sim o pecado que habita em mim.
O que nos ensina o assombro de Paulo quando descobre que
o mal pode falar mais alto a nossos corações?
Sim, queremos o bem. Somos felizes quando praticamos a
bondade, mas por que, muitas e muitas vezes, o mal prevalece?
No fundo, achamos que o mal nunca é radical. Pensamos que
o mal não possui densidade, nem consistência, enfim, não tem qualquer dimensão
demoníaca. Afinal, nós somos modernos, vivemos o apogeu do progresso
tecnológico. Nada há mais mistérios. Isso achamos nós, em nosso tempo confuso.
Por que deveríamos evitar o mal?
O mal pode destruir o mundo inteiro precisamente porque
se espalha como fungo, na superfície de nossos atos. O mal é um enigma para o
pensamento porque não se pode chegar às suas raízes, e quando tentamos
entender, com propriedade, o que é o mal, ficamos frustrados, pois não há nada.
O mal é assustador porque é banal.
Mestre Eckhart, teólogo e pensador medieval, escreveu: Se
nunca fiz o mal, mas apenas tive vontade do mal, isto se trata de um pecado tão
grande quanto matar todos os homens, embora eu não tenha feito nada.
Paulo nos acena para uma outra pessoa dentro de nós.
Um desconhecido que age para além de nosso querer. É este outro habitante de
nós mesmos quem se abriga nas sombras de uma vida profunda. O Bem, por si
mesmo, não é capaz de nos blindar dessa possessão demoníaca que acaba demoníaca
que acaba prevalecendo em nossos atos e escolhas.
É que, sendo banal, o mal se oferece gratuitamente em
nossa vida, sem qualquer exigência, sem esforço, quase naturalmente.
O Bem exige de nós um esforço incomum. Exige vigilância,
atenção, renúncia, cuidado, tolerância, humildade, sentimentos que dependem da
vontade do querer não-querer o Mal. O Bem é difícil e exigente. Viver é muito
perigoso.
Irmãos, vive em nós, num
território sombrio, a flor ácida do mal. Porém, é sempre possível colher as
rosas do jardim sagrado que enfeita nossa alma, cujo jardineiro é um nazareno
de nome Jesus.
Louvado seja O Senhor.
CARLOS SEPÚLVEDA
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